Guerra No WordPress Sobre Licença GPL

Matt Mullenweg vs Chris Pearson

O Matt Mullenweg, fundador e dono do WordPress, declarou guerra ao Chris Pearson, dono do WordPress Theme Thesis.

guerra

Para além da troca de tiros verbais no Twitter, o Matt Mullenweg já ameaçou o Chris Pearson com uma acção judicial.

Não disputam uma mulher loira e bombástica. Até compreenderia o aumento dos níveis de testosterona, se fosse essa a razão para tanta agressividade macho do tipo Hulk e King Kong. Mas, quando o assunto é uma licença GPL…

loira bombástica

A Licença GPL

A questão é mais complexa do que a Larissa Riquelme… Hoje, acedo a um website desportivo e parece que a Larissa Riquelme é a notícia desportiva mais importante da actualidade. Ela pratica desporto? Ou mais simples do que a Larissa Riquelme… Depende do ponto de vista. A Larissa Riquelme nem é loira…

O WordPress é distribuído com uma licença GPL. Qualquer usuário, que faça download do WordPress e use o WordPress, está sujeito aos termos dessa licença. Uma das regras dessa licença é que qualquer trabalho derivado do WordPress também tem que ser distribuído com a licença GPL. O Matt Mullenweg pensa que todos os WordPress Themes e WordPress Plugins são trabalhos derivados e, por isso, só podem ser distribuídos com uma licença GPL.

Ora, acontece que o Thesis, um dos melhores WordPress Themes, não está a ser distribuído com uma licença GPL. E o Chris Pearson não aceita vender o Thesis com uma licença GPL.

A principal razão para rejeitar a licença GPL é simples de entender. Se o Thesis por distribuído com uma licença GPL, qualquer pessoa que faça download do Thesis pode redistribuir legalmente este WordPress Theme com outro nome, cobrando um preço mais baixo que o Chris Pearson ou até redistribuir o Thesis gratuitamente. E pode usar o Thesis como código de partida para o desenvolvimento doutro theme.

Foi o que aconteceu com o próprio WordPress. O Matt Mullenweg usou como ponto de partida para o desenvolvimento do WordPress o código do b2/cafelog, que era um script para blogues. E, como o b2/cafelog era distribuído com a licença GPL e porque o WordPress é claramente um trabalho derivado do b2/cafelog, dado que usou como ponto de partida o código desse script para o seu próprio desenvolvimento, o WordPress teve que ser distribuído com a licença GPL, caso contrário estaria a violar os termos da licença do b2/cafelog e a violar os direitos de autor dos donos do b2/cafelog.

A Má Língua No Twitter

Tudo começou com o afastamento do Bill Erickson duma espécie de conselho consultivo do WordPress, apenas porque é apoiante e promove o Thesis.

Wow, just got an email from Automattic CEO kicking me off the WP Consultants list because I promote #thesiswp (cc @pearsonified)
July 14, 2010 8:36 am via TweetDeck

O Matt Mullenweg depois comentou que o Chris Pearson tinha abusado verbalmente da Jane Wells do WordPress, o que a Jane não confirmou, e que, como o Chris Pearson estava a violar a lei, deveria abandonar a comunidade WordPress.

Depois, decidiu lançar uma bomba, daquelas que violam a Convenção de Genebra:

Thesis site hacked, or inherently insecure? RT @dannyarr Here is the decoded string from admin.php http://bit.ly/97RWvw #thesiswp
July 14, 2010 3:57 pm via web

E a piadinha dum líder responsável:

This is what happens when non-coders think they can code. #thesiswp
July 14, 2010 3:59 pm via web

E rico:

@chexee Tell them I’ll buy them any other premium theme they’d like.
July 14, 2010 4:46 pm via web

Finalmente, a ameça (vamos ver se tem testosterona suficiente… ) duma acção judicial, em resposta a um tweet dum programador:

@photomatt if they’re breaking the license, prove it in a court of law & stop with your childish hissy fit.
July 14, 2010 4:57 pm via web
Skitzzo
Ben Cook

@Skitzzo Working on it. Want to join? :)
July 14, 2010 5:00 pm via web
photomatt

O problema do Matt Mullenweg é que vê no espelho uma pessoa muito influente e muito poderosa… Como ele próprio escreve em lugar de destaque no seu blogue:

MATT MULLENWEG is one of PC World’s Top 50 People on the Web, Inc.com’s 30 under 30, and Business Week’s 25 Most Influential People on the Web.

Wow! Deve ter a casa cheia de espelhos…

Mas, o Chris Pearson também não é aquela pessoa já crescida, experiente e madura. Portanto, trata-se duma verdadeira guerra de EGOS ou, se preferirem, de Galos.

Chris: I’ve done great things with WordPress since 2006. I have been arguably one of the top three most important figures in the history of WordPress. You, Mark Jaquith, and myself, are the three people that I am talking about. I just don’t understand why you, in the position of authority you are in, allow it to be degraded to this little, ridiculous, personal level. You’re fine with all these ‘top WordPress developers’ . . .

Deve estar a sonhar… Antes dele, há muitos programadores que contribuíram e contribuem para o desenvolvimento do WordPress e muitos sem qualquer contrapartida monetária…

Depois, ainda podemos apontar o dedo ao Chris Pearson e acusá-lo da:

  • falta de reconhecimento da importância do WordPress;
  • incapacidade de perceber o modelo open source de desenvolvimento de software e a sua vantagem sobre qualquer outro modelo;
  • falta de respeito pela comunidade WordPress e pelo próprio WordPress, que é a base do seu negócio.

O Mérito E O Demérito Da Discussão

Os guardiões da licença GPL usam uma interpretação extensiva do conceito jurídico de trabalho derivado. Ora, quem poderá afirmar que essa interpretação é a interpretação correcta e é uma interpretação imparcial da lei de direitos de autor que se aplica nos EUA? Trata-se duma opinião como qualquer outra. E é necessário enquadrá-la no respectivo contexto. Quem defende o GPL, terá sempre uma tendência para querer extender a licença o máximo possível.

A licença GPL foi criada num contexto histórico diferente do actual. O software era desenvolvido através da modificação do código fonte. Era necessário compilar todo esse código de modo a obter 1 único ficheiro executável. Qualquer trabalho derivado era linkado ao trabalho original no momento da compilação, resultando dessa compilação 1 único programa, que era depois distribuído. O contexto actual é muito diferente, dado que temos programas que são distribuídos autonomamente e que são linkados pelo usuário no momento da respectiva execução. É o caso dos WordPress Plugins, mas também dos WordPress Themes. E, se quiseremos pensar fora do Universo WordPress, temos os plugins do Firefox ou do Chrome.

Hoje, todos conhecemos o conceito de plugin. É um programa que pode ser instalado e executado pelo usuário numa aplicação existente, aumentando a funcionalidade dessa aplicação. É necessário referir que esta aplicação suporta o uso desses plugins, tendo sido programada para incluir esse suporte. Temos, por exemplo, o caso do Firefox e todos os plugins que podem ser instalados e que adicionam funcionalidades ao Firefox. Parte do êxito do Firefox deve-se à quantidade e à qualidade dos plugins que tornam o Firefox uma ferramenta mais versátil e mais apta a satisfazer necessidades diferentes.

Não podemos ser apoiantes do movimento open source de desenvolvimento de software e, ao mesmo tempo, defendermos que o GPL é como uma doença infecciosa que contagia qualquer software que comunique com software GPL.

Não podemos ser advogados da LIBERDADE e, ao mesmo tempo, defendermos a extensão do conceito jurídico de trabalho derivado ao ponto de limitarmos a liberdade dos programadores de decidirem o destinos dos seus próprios programas, fora do contexto natural dum trabalho derivado. Se alguém pegar no código do WordPress e desenvolver um CMS baseado nesse código, terá que naturalmente sujeitar-se à licença desse software. E, se for GPL, terá que distribuir o seu trabalho com a mesma licença.

Num modelo de desenvolvimento de software que inclui plugins, themes, extensions, modules, querer ser SENHOR DE TODO O UNIVERSO é o mesmo que tentar ser Senhor da Liberdade e Líder Supremo da Coreia do Norte. Não é possível…

Obviamente, trata-se duma caricatura grotesca da interpretação extensiva do conceito de trabalho derivado. Mas, retrata a ideia de que a aplicação do conceito jurídico de trabalho derivado ao contexto actual de desenvolvimento de software carece ainda de muito trabalho dos juristas, dos tribunais e dos próprios programadores. E não vejo qualquer ponderação séria sobre o tema neste debate ruidoso.

Fora do contexto desta guerra de EGOS, o Matt Mullenweg e o Chris Pearson são programadores que merecem o nosso respeito e consideração. Somos apoiantes do modelo open souce de desenvolvimento de software. Publicamos todas as semanas dois tutoriais sobre WordPress. É o nosso contributo para a comunidade.

Mas, não apreciamos esta guerra de palavras… Há uma diferença de opiniões? Os tribunais que decidam. Não sei se gosto ou não do Chris Pearson. Confesso que conheço mal as duas personalidades. Mas, goste ou não da pessoa, o Chris Pearson não é obrigado a mudar de opinião só porque o Matt é uma pessoa muito influente…

Quando pensamos o modelo open source de desenvolvimento de software, temos que ponderar sempre a consequência das nossas ideias no modelo proprietário. Uma interpretação extensiva de trabalho derivado vai apenas aumentar as garras dos monopólios que, no mercado proprietário, actuam com manifesta e abusiva ganância.

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1 Comentários

  1. Sidney

    Cara, muito bom teu post.
    Divertido, informativo e esclarecedor.

    Obrigado.

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