A Guerra Dos Browsers

O Browser Como Interface Do Motor De Busca

O aspecto mais interessante do Chrome é a integração da função de pesquisa do Google na barra de navegação do browser. Tanto o Internet Explorer, como o Firefox, incluem uma barra de pesquisa, oferecendo ao utilizador a possibilidade de seleccionar o motor de busca. A Google, ao integrar a barra de pesquisa com a barra de navegação, antecipa o futuro do browser como interface natural do próprio motor de busca.

Esta evolução dos browsers é perigosa para a empresa Google, que defende uma posição dominante no mercado de pesquisa, sem ter uma posição relevante no mercado dos browsers.

Estado Actual Dos 2 Mercados (Browsers E Motores De Busca):

  • O Google tem uma posição dominante no mercado de busca e defende essa posição;
  • O Internet Explorer tem uma quota a rondar os 70% no mercado dos browsers;
  • O Firefox tem uma quota a rondar os 20% no mercado dos browsers;
  • O Chrome tem uma quota inferior a 1% no mercado dos browsers;
  • O motor de busca da Microsoft, Live, não apresenta a qualidade necessária em termos de pesquisa;
  • A Mozilla Foundation não tem um motor de busca;

Que Risco Existe Para A Google?

O browser ao evoluir para o interface natural da pesquisa torna-se motor de busca. E o Chrome tem uma quota de mercado inferior a 1%…

Como É Que Se Ataca A Posição Dominante Do Google?

  1. O Live atinge a qualidade da pesquisa do Google
  2. A Mozilla Foundation lança, depois de 2011, um motor de busca com a mesma qualidade do Google
  3. Tanto a Microsoft, como a Mozilla, apostam no browser como interface dos respectivos motores de busca, conquistando mercado à custa da Google

Que Dificuldades Para a Microsoft E A Mozilla?

  • A Microsoft trabalha no motor de busca há anos. Ainda não conseguiu apresentar a qualidade necessária para destronar o Google. Não é previsível que, sem alterações substanciais à tendência actual, a Microsoft consiga superiorizar-se ou até igualar a tecnologia do motor de busca Google. E existem questões legais a considerar. O Windows tem uma posição dominante no mercado de sistemas operativos. Quem é que quer que a Microsoft também domine o mercado dos motores de busca e consequentemente da publicidade online?
  • A Mozilla Foundation não tem qualquer projecto activo para criar um motor de busca.

Como É Que A Google Defende A Sua Posição?

  • Cria as condições necessárias para que as extensões do Firefox possam ser migradas para o Chrome e presta especial atenção ao espírito de comunidade que a Mozilla criou;
  • Ataca o Internet Explorer no mercado OEM, de modo que o Chrome venha instalado nos novos computadores, juntamente com o Internet Explorer;
  • Oferece os seus serviços num mercado vertical, com um espírito comunitário e participativo, para evitar repetir os erros da Microsoft;

Dificuldades Para A Google?

  1. A Mozilla Foundation é uma organização sem fins lucrativos e criou uma comunidade que cultiva o espírito open source e de liberdade tecnológica face a corporações como a Microsoft. A Google é uma corporação com fins lucrativos e cotada em bolsa. A ideia da portabilidade das extensões entre Firefox e Chrome pode ser vista como uma apropriação do trabalho dessa comunidade e criar anti-corpos desfavoráveis ao Chrome;
  2. A Microsoft controla o mercado OME;
  3. A Google está concentrada na necessidade de oferecer valor aos seus accionistas e na lógica de crescimento da empresa;

A Questão Da Privacidade

A Mozilla pode apostar na ideia de que os utilizadores não devem confiar o seu histórico de navegação aos motores de busca, defendendo desse modo a privacidade dos utilizadores e a consequente separação browser / motor de busca. Poderá ainda oferecer opções de pesquisa complementares, para além das que já oferece:

  • Yahoo
  • Wikipedia
  • Motores regionais e locais
  • Ebay
  • Amazon
  • Shopzilla

Os motores de busca tem acesso ao histórico de pesquisa de cada utilizador. Mas, não tem acesso ao histórico de navegação de cada utilizador, excepto se o utilizador estiver a utilizar o browser desse motor de busca. Se você estiver a utilizar o Firefox ou o Internet Explorer, e escrever na barra de navegação www.gorila.pt, o Google não saberá que você acedeu a este site. Logo, a informação a que terá acesso será mais limitada.

Os motores de busca não são organizações missionárias e sem fins lucrativos. O negócio deles é a publicidade. E por detrás da publicidade estão os anunciantes. Se o Google tiver acesso a todo o histórico de navegação dum determinado utilizador, poderá fornecer a esse utilizador anúncios publicitários feitos à medida desse historial. A personalização da publicidade tornará o utilizador mais vulnerável enquanto consumidor.

A própria ideia de personalizar os próprios resultados da pesquisa em função do historial de navegação do utilizador resultará em menos pesquisas e na menor exposição do utilizador a novidades. Imagine o caso da Amazon. Se você comprar 2 ou 3 livros sobre biologia no site da Amazon, quando regressar, vai ser bombardeado com livros sobre Biologia. Isto funciona para a Amazon em termos de taxas de conversão a curto prazo, dado que se lhe apresentassem aleatoriamente uma qualquer novidade, a probabilidade de você comprar esse novo livro será menor do que a probabilidade de você comprar um livro sobre Biologia, um tema comprovadamente do seu interesse. Mas, também é verdade que após a compra de 2 ou 3 livros de Biologia, o seu nível de saturação relativamente a esse tema aumenta. E o nível de exposição face a novidades diminui, porque a Amazon restringe a oferta a livros que correspondem ao seu perfil de comprador. Logo, você comprará menos livros a médio e longo prazo. Trata-se duma simplificação grosseira, mas que podemos aplicar à pesquisa.

Com base no seu historial de navegação, o motor de busca poderá apresentar-lhe os seus sites preferidos. Ou parecidos com os seus sites preferidos. Mas, o lado negativo é que a sua exposição a sites que você não conhece vai diminuir. E a diversidade da informação a que terá acesso irá diminuir.

Os Beneficios Da Guerra

  1. O Firefox pode afirmar-se como um espaço de liberdade face aos browsers das corporate Microsoft e Google e, mesmo sem motor de busca, sobreviver a esta guerra dos browsers.
  2. A Google, com a dupla revolução, na qualidade da pesquisa e na massificação da publicidade Pay Per Click, e o consequente valor que criou para milhares de pequenas e médias empresas e até empreendedores individuais, merece a posição de referência no mercado de pesquisa e saberá conquistar a quota de mercado necessária para o Chrome.
  3. A Microsoft precisa de reinventar-se e duma nova liderança. Cometeu erros, mas já todos usamos sistemas operativos Windows e aplicações da Microsoft.

A competição é vantajosa para os consumidores. Quem é não se lembra dos tempos em que só existia a Portugal Telecom a oferecer serviços de comunicação em Portugal? Hoje, temos uma oferta variada, preços mais competitivos, houve inovação e evolução tecnológica e a PT continua a ser uma empresa grande.

E você? O que é que pensa?

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